OCUPAÇÃO
EUROPEIA E RESISTÊNCIAS NO QUÊNIA (1880-1914)
Antes da
dominação europeia no Quênia, o país já se encontrava organizado politicamente,
organização esta, marcada por alto grau de centralização. Vários foram os
mecanismos de conquista utilizados pelos britânicos, ora se utilizavam do
emprego da força, ora faziam alianças diplomáticas. Henry A. Mwanzi (2010)
informa que em 1901 foi construída a via férrea de Uganda, ligando o interior
do Quênia e de Uganda ao litoral, vias construídas para facilitar o avanço
terra adentro. A real intenção era direcionar a economia do país para a
exportação fazendo com que a região ficasse dependente de acordos econômicos
feitos na Europa, transformando-se em uma região fornecedora de matéria prima,
não em uma área industrializada, é também neste momento que ocorrem as tomadas
de terras.
A reação
dos quenianos aos empreendimentos em alguns momentos foi diplomática, em outros
militar. Exemplo de resistência a este processo são os povos Nandi, organizados
em tropas territoriais, resistiram por mais de sete anos à ocupação
estrangeira. Vale ressaltar que a população queniana se divide em tribos, os
europeus (britânicos) se utilizaram das diferenças étnicas para criarem
conflitos internos, o que facilitava a penetração e domínio na região, portanto,
segundo Mwanzi (2010) a resistência variava segundo a natureza das comunidades
e a maneira como cada uma percebia a ameaça à sua soberania. O autor afirma que
em todo o Quênia houve oposição ao domínio colonial, os britânicos só impuseram
sua autoridade pela força. Com relação às alianças diplomáticas, os que se
aliavam aos britânicos em oposição ao outro setor da sociedade, tinham como
recompensa, a nomeação de chefe no sistema colonial.
IGREJAS
INDEPENDENTES E RELIGIÕES TRADICIONAIS
A
religião cristã está podre e é por isso que ela pede aos crentes que vistam
roupa. Meus adeptos devem deixar crescer o cabelo. Todos os europeus são vossos
inimigos, mas está próximo o tempo em que desaparecerão do vosso país.
Onyango Dande
(Culto Mumbo)
É um
lugar magnífico [o céu], onde todos os povos da terra queriam entrar, mas os
anjos fecharam a porta. Quando todos os homens foram reunidos, os anjos fizeram
entrar primeiro os judeus e depois os árabes. Deixaram então entrar juntos John
Owala, o arcanjo Gabriel e o arcanjo Rafael. Os homens brancos tentaram segui‑los, mas os anjos fecharam a porta no nariz deles e os expulsaram a
pontapés.
John
Owalo (Nomyia Luo Church)
Os
trechos acima são reveladores e demonstram o posicionamento das Religiões
Tradicionais e Igrejas Independentes (cristãs) acerca do domínio europeu. Para
Mwanzi (2010), essas religiões eram movimentos políticos e ideológicos contra o
domínio branco. Elisa Stephen Atieno-Odhiambo (2010) afirma que “ a religião é
uma das armas que os africanos orientais empregaram desde o início na luta
contra o colonialismo. A resistência supunha uma mobilização, e em numerosas
regiões foram os chefes religiosos que assumiram esse papel.” (p. 759)
Havia na
sociedade uma necessidade de se fortalecer espiritualmente para lutar contra o
colonialismo, dessa necessidade nascem as Igreja Africanas Independentes,
igrejas cristãs paralelas às europeias. A primeira igreja africana independente
denominada Nomyia Luo Church surge em 1910 no Quenia sob a direção de John
Owalo, este afirmava ter sido chamado por Deus a criar sua própria religião.
Segundo Atieno-Odhiambo(2010), as igrejas cristãs independentes desempenharam o
papel de movimento de protesto contra o paternalismo europeu das Igrejas
Missionárias. Movimento parecido foi liderado por uma mulher entre os Akamba (Quênia
Oriental), Sistume afirmava ser possuída pelo espirito. Outro movimento em
oposição à política do colonialismo no Quênia.
Em 1913, Onyango
Dande funda o culto Mumbo no Quênia, um movimento de resistência ao homem
branco. O mumboísmo Luo era sensível à atualidade política, Onyango, o profeta,
condenava os europeus e seus modos de vida.
REVOLTA
MAU-MAU E INDEPENDÊNCIA DO PAÍS
Quando os missionários chegaram, os africanos tinham a terra e os missionários tinham a Bíblia. Eles nos ensinaram a rezar de olhos fechados. Quando nós os abrimos, eles tinham a terra e nós tínhamos a Bíblia.
Jomo Kenyatta
Michael Twaddle (2010) informa que durante as guerras mundiais, principalmente a segunda, o Quênia transformou-se em centro do Império Britânico, paradoxalmente, aos mesmo tempo em que este país ganhava importancis como fonte de matérias-primas e produtos alimentares, a desigualdade entre ricos e pobres aumentava de forma dramática. Essas contradições internas culminaram na Revolta dos Mau-Mau, movimento que recebe o mesmo nome do grupo que o impulsiona, uma organização clandestina que surgiu entre os Kikuyus, grupo étnico do Quênia. Esta foi a mais importante das revoltas anti-coloniais que a administração britânica teve que enfrentar na África. A população vivia em um contexto onde segundo Waddle (2010), as demandas da comunidade europeia eram rapidamente satisfeitas, enquanto os anseios da comunidade africana eram ignorados, esta situação conduz o africano comum a pensar que somente um governo que fosse seu e nenhum outro seria capaz de defender os seus interesses.
Neste contexto fica em evidência como liderança a figura de Jomo Kenyatta, pertencente ao grupo étnico dos Kikuyus, formado pela Escola de Economia de Londres, era presidente da União Africana do Quênia (KAU) e transformou a organização em um partido nacionalista de massas. Durante a revolta, vários representantes da KAU foram presos considerados culpados por terem tomado parte na organização do movimento, inclusive o Jomo Kenyatta.
Michael Twadlle (2010) explica que a Revolta mau-mau era composta por alguns elementos:
- Luta pela terra e movimento de resistência contra uma política de modernização da agricultura imposta à força: Inicialmente um movimento pela terra porque era um protesto dos camponeses que haviam sido arrancados de suas terras, no período que sucedeu o fim da Segunda Guerra inclusive, várias foram as ações ligadas à terra: incêndio de propriedades dos colonos brancos, mutilações de rebanhos, até que em 1952 é proclamado estado de emergência por um governo britânico recém nomeado;
- Renovação cultural: segundo Elisha Stephen Atieno-Odhiambo (2010) este movimento teve caráter cultural à medida que para garantir base sólida à associação, Jomo Kenyatta apelava para seu povo no Mwigwithania, jornal de língua gikuyu fundado por ele, no qual exortava o povo a se orgulhar de seu patrimônio cultural. Nas publicações eram colocados vários enigmas, provérbios e histórias relacionados à cultura local com o intuito de reforçar o sentimento de pertencimento e a identidade, com a utilização principalmente de sua língua em substituição ao idioma do colonizador. Anos depois em 1974, Jomo Kenyatta afirma: “a base de qualquer governo independente é uma língua nacional, e não podemos mais continuar a imitar nossos antigos colonizadores... aqueles que acham que não podem viver sem o inglês podem também fazer as malas e ir embora.”
A revolta dos mau-mau prolongou-se até 1960, a Kau foi banida, Jomo Kenyatta, preso. Em 1959 o estado de emergência foi suspenso. Kenyatta é posto em liberdade em agosto de 1961. O domínio britânico já está fragilizado. Em maio de 1963, Kenyatta torna-se primeiro ministro, seis meses mais tarde dirige um país plenamente independente cuja declaração de independência se deu em 12 de dezembro de 1963.
PRESIDENTES DO QUÊNIA INDEPENDENTE
JOMO KENYATTA (1963 -1978)
Como presidente Kenyatta instituiu uma reforma agrária pacífica
onde a distribuição das melhores terras
ficou para parentes e amigos do presidente, sendo ele o maior beneficiário. Na
condição de presidente consegue a admissão do Quênia nas Nações Unidas. Foi
reeleito em 1966 e em 1974. Seus críticos o acusam de ter deixado o país sob o
risco de rivalidades tribais uma vez que sua etnia Kikuyu não admitia
presidente de outro grupo. Morreu em 1978 e foi sucedido por Daniel Arap Moi.
DANIEL
ARAP MOI (1978 - 2002)
Foi
vice-presidente de 1967-1978, segundo presidente do Quênia, ficou no poder até
2002. Conduziu o país com mãos de ferro, o marxismo foi proibido nas
Universidades quenianas. Trata-se de um período marcado por repressões
políticas incluindo o uso de torturas.
Em
1999, resultado de ONGs como a Anistia Internacional e uma investigação
especial das Nações Unidas indicaram abusos de Direitos Humanos predominantes
no Quênia sob o regime de Moi. Denuncias de corrupção o impediram de concorrer
as eleições em 2002, neste momento ele indica para concorrer à presidência do
país Uhuru Kenyatta , filho do primeiro presidente do Quênia, no entanto,
venceu as eleições Mwai Kibaki , o que foi confirmado em 29 de dezembro de 2002.
MWAI
KIBAKI (de 2002 até os dias atuais)
Foi Vice-Presidente
do Quénia de 1978 a 1988, pertencente à etnia Kikuyu, ao ser eleito em 2002 em
seu discurso de posse afirma estar herdando um país devastado pelo mal de anos
de desgoverno e incompetência, prometendo acabar com a corrupção do governo. Em seu
primeiro mandato priorizou a economia e a saúde. Vence as eleições de 2007, sob
protestos e acusações de fraude por parte da oposição, que tinha como principal
adversário Raila Odinga, que tinha financiado uma campanha anti-kikuyu.
A
eleição foi investigada pela Comissão de Revisão Independente (IREC) e
verificou-se irregularidades eleitorais em várias regiões. Tais práticas
abusivas incluídas corrupção generalizada, compra de votos e intimidação gerou
uma onda de violências entre 2007 e 2008, as tribos que perderam a eleição não aceitaram
e cresceu o sentimento anti-kikuyu no
país. Relatório feito pelas Nações Unidas afirma que mais de 1.200 quenianos
foram mortos, milhares de feridos, mais de 300.000 pessoas desalojadas e cerca
de 42.000 casas, fazendas e muitas empresas foram saqueadas e/ou destruídas. O
País foi “tranquilizado” pela mediação do ex-secretário-geral das Nações Unidas
Kofi Annan.
Atualmente Mwai Kibaki tem negociado com o
Brasil, em 20/05/2011 o
Secretário executivo do Ministério de Gênero, Criança e Desenvolvimento Social James Nyikal
- esteve no Brasil com o intuito de aprender com o sistema de proteção social do Brasil. Saber como é gerenciado e
administrado. Recentemente entre os dias 16 a 22/06/2012 o presidente Mwai
Kibaki esteve no Brasil, para participar da Conferência de Desenvolvimento Sustentável das Nações
Unidas-Rio+20. Durante o evento, se reuniu com Luciano Coutinho, presidente do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Kibaki negocia com o Brasil crédito de US$ 2 bilhões, que
seriam aplicados em diversos projetos - rede de vias expressas para
descongestionar a capital do país, desenvolvimento da agricultura, da energia e
de infraestruturas. No setor de energia, Kibaki pediu ajuda ao BNDES para
financiar a produção de açúcar, etanol e geração de eletricidade.
Em
seu discurso na Conferencia Kibaki afirmou que não é possível cuidar
da natureza sem falar da erradicação da pobreza e da fome, umavez que a pobreza
no mundo não tem outra causa que não a desigualdade. E combater a desigualdade
é a primeira ação a tomar. Ele aproveitou para elogiar o ex-presidente Lula,
com a implementação do programa Fome Zero, no qual tem interesse para aplicação
em seu país. Durante a Rio+20 foi homenageado e recebeu a Ordem do Mérito Industrial do Humanidade 2012 - Realização conjunta da
Fiesp, Sistema Firjan, Fundação Roberto Marinho, Sesi-Rio, Sesi-SP, Senai-Rio,
Senai-SP, idealizado com o objetivo de realçar o importante papel que o Brasil
exerce hoje como um dos líderes globais no debate sobre o desenvolvimento
sustentável.É válido lembrar que atualmente Nairóbi é sede do Pnuma - Programa das Nações Unidas para o Meio
ambiente, portanto, torna-se de suma
importância a participação efetiva do
Quênia nas conferências internacionais
sobre sustentabilidade e meio ambiente, sendo que para , Mwai Kibaki as questões sociais não
podem ser tratadas de forma dissociada.
REFERENCIA
ATIENO-ODHIAMBO, Elisa Stephen. Política e o nacionalismo na África oriental, 1919-1935. In: A África Oriental. In: História geral da África, VIII: África desde 1935. Brasília : UNESCO, 2010. pp.757 - 785.
MWANZI, Henry A. Iniciativas e resistências africanas na África oriental, 1880 - 1914. In: História geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2.ed. rev. – Brasília : UNESCO, 2010. pp. 167 - 189.
TWADDLE, Michael. A África Oriental. In: História geral da África, VIII: África desde 1935. Brasília : UNESCO, 2010. pp.262-292.
WONDJI, C. Posfácio: cronologia da atualidade africana nos anos 1990. In: História Geral da África, VIII: África desde 1935. Brasília : UNESCO, 2010. pp. 1133 -1141.
SITES: